O vento, Renato,Cássia e eu

"O que se perdeu foi pouco,mas era o que eu mais amava"
Henriqueta Lisboa
"Veja o sol desa manhã tão cinza"
Estava eu, voltando mais cedo a pé, chutando pedrinhas no chão, olhando o tempo estranho e tentando entender...Ainda tento compreender o mundo, salvá-lo ou melhorá-lo, mas dessa vez estava pensando mesmo em mim, nos meus pequenos problemas e as saudades que me comprimiam o peito; cosas que já passaram, mas que deixaram questões que me impedem de continuar.
Lá estava eu, olhando como lentamente as nuvens acinzentadas se arrastavam pela imensidão de um cinza tão limpo e claro como as coisas que antes eu não entendia.E, como sempre nesses momentos em que agente precisa de uma palavra amiga mas não admite ou não tem ninguém por perto,uma música bem conhecida começa a tocar no mp3 aleatóriamente, sem eu pedir; feito aquele amigo que te dá colo sem vc dizer nada..."De tarde quero descansar,chegar até a praia e ver se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras,sei..."
Era Cássia, e logo depois Renato, o Grande Renato, sempre ele.Mas agora a situação era outra; eu senti falta não só de uma pessoa, mas de um tempo não muito distante, que a risada saia fácil,os olhos brilhavam e eu escrevia mil coisas.Acho que foi por isso que eu deletei o antigo blog,mesmo salvando os melhores textos; eu precisava de um lugar novo,de um tempo pra respirar e me recuperar; e agora me sinto tão vazia de tudo, os olhos já não brilham e é difícil eu dar uma risada realmente franca,daquelas que vêm de dentro.
"Existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem..."Sinceramente,não sei o que vai ser de agora em diante, só digo que estou tentando; Renato, Cássia e eu, juntos.
"Sei que faço isso pra esquecer,eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora..."

Morna

"My Blueberry Nights"
"O que você define como uma vida morna?". Foi o que minha psicóloga me perguntou, depois de ouvir minhas queixas sobre como minha vida estava morna; ela pediu que eu desenhasse como eu achava que era, e me perguntou se eu ainda escrevia.Como posso escrever com essa vida morna?
Pois bem, isso ainda está na minha mente; Eu vejo o morno como um estado de total inércia e monotonia, nem quente nem frio, apenas o meio termo que tanto temo.Não sei porque,mas acho que artistas devem ser pessoas extremistas, cheias de altos e baixos, rompantes, loucuras....audácia,coragem e muita felicidade.
Agora isso me parece idiota, e ao imaginar essas pessoas sinto pena, porque elas nãos e permitem talvez viver de verdade; ficam oscilando sempre, entre a alegria beirando o êxtase e a dor insuportável e agonizante...Minha mãe diz que sou meio dramática, que deveria fazer teatro;mas cheguei a conclusão de que fico mesmo nos bastidores, ajudando os artistas com as falas, figurino,maquiagem, aprontando o cenário e assistindo o espetáculo acontecer.
E quando as cortinas se fecham,quem há de lembrar do ajudante?
"Pela janela do quarto,pela janela do carro,pela tela, pela janela
Quem é ela? quem é ela?Eu vejo tudo enquadrado,remoto controle..."

Sempre tive medo de estar no centro do palco, de dar a cara a tapa, arriscar e viver.Tenho medo de viver, admitir isso está sendo mais difícil do que parece;ter tanto medo da rejeição alheia, de ficar sozinha, de desagradar.Eis que chego a minha resposta: Uma vida morna é resultado de uma vida com medo.
"E como uma segunda pele,um calo, uma casca,uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes "prá" sinalizar o estar de cada coisa,filtrar seus graus..."

Trechos: Esquadros- Adriana Calcanhotto

Desejo que você tenha a quem amar

"One Day"
"O mundo inevitavelmente fica meio cinza quando se está de coração vazio"Corrigindo minha própria frase: meu coração não está vazio. Apenas não tenho alguém que me arranque suspiros, me faça ficar noites em claro e me dê motivos para transbordar inspiração.
Sou como aqueles artistas do passado, preciso de alguém que me inspire; que inconscientemente seja o motivo de eu acordar no meio da noite e rabiscar versos soltos no caderno, ou de brincar com lápis e papel e acabar criando um belo desenho.
"Quando eu amo, eu transbordo. E esse amor escorre por tudo que faço,digo e sinto. Em toda parte pode-se ver respingos"Não é que eu não consiga criar, mas com amor ou dor é tão mais fácil; são sentimentos intensos, que exigem muito de nós, que nos tiram de nosso estado homeostático e nos levam além, transcedem.
Não tenho um grande amor ou uma grande dor no momento, então me apego aos meus amores secundários, que me sustentam, impedem que eu deixe de ser...eu.
Não sei se sabem, mas não gosto de meios, principalmente "meios amores",gosto de tudo muito, sou exagerada, hipérbole, louca, dramática; mas tudo isso dentro de mim, de forma contida e recatada.

A não ser quando eu amo, aí eu transbordo.