Morna

"My Blueberry Nights"
"O que você define como uma vida morna?". Foi o que minha psicóloga me perguntou, depois de ouvir minhas queixas sobre como minha vida estava morna; ela pediu que eu desenhasse como eu achava que era, e me perguntou se eu ainda escrevia.Como posso escrever com essa vida morna?
Pois bem, isso ainda está na minha mente; Eu vejo o morno como um estado de total inércia e monotonia, nem quente nem frio, apenas o meio termo que tanto temo.Não sei porque,mas acho que artistas devem ser pessoas extremistas, cheias de altos e baixos, rompantes, loucuras....audácia,coragem e muita felicidade.
Agora isso me parece idiota, e ao imaginar essas pessoas sinto pena, porque elas nãos e permitem talvez viver de verdade; ficam oscilando sempre, entre a alegria beirando o êxtase e a dor insuportável e agonizante...Minha mãe diz que sou meio dramática, que deveria fazer teatro;mas cheguei a conclusão de que fico mesmo nos bastidores, ajudando os artistas com as falas, figurino,maquiagem, aprontando o cenário e assistindo o espetáculo acontecer.
E quando as cortinas se fecham,quem há de lembrar do ajudante?
"Pela janela do quarto,pela janela do carro,pela tela, pela janela
Quem é ela? quem é ela?Eu vejo tudo enquadrado,remoto controle..."

Sempre tive medo de estar no centro do palco, de dar a cara a tapa, arriscar e viver.Tenho medo de viver, admitir isso está sendo mais difícil do que parece;ter tanto medo da rejeição alheia, de ficar sozinha, de desagradar.Eis que chego a minha resposta: Uma vida morna é resultado de uma vida com medo.
"E como uma segunda pele,um calo, uma casca,uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes "prá" sinalizar o estar de cada coisa,filtrar seus graus..."

Trechos: Esquadros- Adriana Calcanhotto

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